Decorreu no passado sábado, dia 29 de Dezembro, a cerimónia de encerramento das comemorações dos 270 anos do Hospital da Misericórdia de Ponte da Barca, marcado pela Inauguração de uma Exposição interativa que estará patente no Hospital da Misericórdia até final do mês de Janeiro e de várias homenagens.
A sessão de encerramento, que teve lugar na Praça da República, homenageou figuras que se destacaram ao serviço do Hospital da Misericórdia, como o Padre José Rodrigues dos Reis e o Doutor Moreira de Barros, ambos a título póstumo. De igual forma foram homenageadas, na pessoa da Doutora Maria do Carmo Machado Cruz, as mulheres que serviram, ao longo dos anos, a Instituição.
Foram ainda entregues lembranças, como sinal de reconhecimento, a todas as entidades parceiras que têm sido parte integrante do caminho do Hospital da Misericórdia.
Jaime Ferreri fez um brilhante retrato da importância das mulheres na vida da instituição, nomeadamente na angariação de fundos para suprimir as necessidades no hospital. Destacou o papel das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras que foram, pelo trabalho meritório que exerceram, a alma do Hospital durante mais de seis décadas, assim como das primeiras mulheres que aqui exerceram cargos de direção, a partir da década de noventa, com a integração da saudosa Maria Júlia Machado Sousa como elemento do conselho fiscal.
Depois da sessão solene, foi então inaugurada a exposição, que percorre várias alas do Hospital da Misericórdia. Mais de 500 peças em exibição ganharam vida com a reconstituição de espaços centrais do hospital, como o consultório e a enfermaria, a capela e os serviços administrativos. A recuperação da memória de nomes marcantes da instituição esteve a cargo da Associação “Os Canários de Bravães,” apoiados por colaboradoras da instituição.
A exposição remete-nos para a importância da recuperação da Memória do Hospital da Misericórdia, como fator de identidade da comunidade onde que está inserido, num percurso dinâmico e vivenciador de documentos, objetos e espaços.
Hospital da Misericórdia de Ponte da Barca
O Hospital da Misericórdia de Ponte da Barca foi fundado a 10 de Setembro de 1748.
Dando continuidade a uma tradição de assistência aos habitantes da terra e aos viajantes, sobretudo peregrinos de Santiago de Compostela, o primeiro edifício situava-se num espaço adjacente à Igreja da Misericórdia. Começou de uma forma muito humilde, apenas com duas camas permanentes, o que levava a Instituição a manter a assistência domiciliária, para cumprimento de uma das suas obras de misericórdia, visitar e curar os enfermos.
Só nos finais do séc. XIX, se veio a registar um salto qualitativo. O Provedor de então, Padre José Rodrigues dos Reis, propôs, em sessão da Mesa Administrativa de 7 de Março de 1897, que se avançasse para a construção de um novo edifício, por aquele não reunir condições mínimas de funcionamento. O projeto, da autoria de João Cerqueira Machado, foi escolhido de imediato, mas as obras estenderam-se por vários anos, sendo que a principal causa se prende com motivos de ordem financeira. Estando inserida num meio relativamente pobre, a Santa Casa contaria com poucos recursos para poder avançar com as obras rapidamente, a par das que estavam a ser levadas a cabo na Igreja da Misericórdia. Outro dos fatores, esteve ligado ao período de tensão e conflito que se sentiu nas misericórdias portuguesas, no quadro da 1.ª República, o que originou graves desavenças entre os seus corpos dirigentes e o poder político local.
Feito a expensas de beneméritos locais, o novo hospital foi aberto em 1911, com a área de internamento condicionada, admitindo apenas doentes nas enfermarias do lado Norte. Em 1914, as Irmãs Hospitaleiras instalam-se no Hospital e são criados os primeiros regulamentos de funcionamento.
A doação deixada, em testamento, pelo Conde da Folgosa, permitiu um novo impulso no avanço das obras que, no entanto, só ficariam concluídas em 1928, financiadas pelo benemérito Francisco Souza e Costa.
No contexto da assistência sanitária, o papel do Hospital fica marcado, neste período, pela sua capacidade de resposta a uma situação dramática, a epidemia da gripe pneumónica (1918-1919), que dizimou cerca de 136 mil pessoas e foi, em termos de mortalidade, a maior catástrofe de todo o século XX em Portugal.
Os anos seguintes continuaram a ser de dificuldades, muito marcados pelo contexto da 2.ª guerra mundial. No âmbito das inúmeras dificuldades financeiras que daqui resultaram, foi visível, mais uma vez, a estreita ligação entre a instituição e a comunidade, que disse sempre presente quando foi chamada a contribuir para colmatar a falta de apoios institucionais. São disso exemplo, as múltiplas modalidades de angariação de fundos, com destaque para os Arraias da Misericórdia e os Cortejos de Oferendas.
É inquestionável que o Estado Novo encetou vários esforços no sentido de reabilitar a importância das Misericórdias, ao mesmo tempo que as fazia perceber o seu carácter autoritário, ao tentar dominar e vigiar as sua direções, cuja composição tinha de ser aprovada pelos governos civis. A de Ponte da Barca não é exceção, e também aqui se verifica uma proximidade ao poder instituído. Por outro lado, integra-as no seu próprio discurso de propaganda, “a política de espírito“, da qual os cortejos de oferendas, considerados uma das maiores manifestações de benemerência e cultura popular no concelho entre as décadas de 40 e 70 , são disso um exemplo.
Marcado pela ambição dos seus dirigentes, nas décadas de 50 e 60 o Hospital é alvo de profundas remodelações, na sua estrutura, e pela instalação de vários serviços da especialidade, nomeadamente, a partir de 1952, do serviço operatório de alta cirurgia.
No ano de 1972, o Centro de Saúde passou a funcionar nas suas instalações.
O 25 de Abril de 1974 viria a mudar a lógica da ação hospitalar destas instituições. Por decreto, os Hospitais das Misericórdias passaram a integrar a rede nacional hospitalar e a ser administrados por comissões nomeadas pelo governo, mantendo-se, contudo, o direito de propriedade dos edifícios. Em Ponte da Barca, o corpo clínico, administrativo a auxiliar assume, de modo formal, com registo em ata, esta mudança de direção.
Em 1995, com a inauguração do novo Centro de Saúde, o Hospital da Misericórdia foi desativado, dando-se início a obras de profunda remodelação do imóvel. Os trabalhos concluíram-se três anos mais tarde. O renovado Hospital da Misericórdia reabriu então as suas portas à comunidade.
Atualmente, esta resposta social tem sediada nas suas instalações duas valências: Unidade de Cuidados Continuados (Unidade de Longa Duração e Manutenção e Unidade de Média Duração e Reabilitação) e Estrutura Residencial para Idosos (ERPI). De salientar, ainda, que são disponibilizados neste edifício os seguintes serviços: Serviço de Hemodiálise; Recolha de Análises Clinicas; Consultas de Especialidade; Centro de Enfermagem.
Deixe um comentário
Por favor entreara inserir um comentário.