Cerca de três em cada dez idosos que vivem em lares das misericórdias sofrem de demência e 80% têm “deterioração cognitiva”, revela um estudo elaborado pela União das Misericórdias Portuguesas (UMP)
A Doença de Alzheimer (DA) é a forma mais comum de demência. Em virtude de sua incidência e natureza devastadoras, caracteriza um problema de saúde pública em todo o mundo (Guerrero, Garófano e Tovar, 2005; Podewils et al., 2005). Face ao envelhecimento da população nos estados-membros da União Europeia os especialistas preveem uma duplicação destes valores em 2040 na Europa Ocidental. Todos os anos, 1,4 milhões de cidadãos europeus desenvolvem demência, o que significa que a cada 24 segundos, um novo caso é diagnosticado. Em Portugal estima-se que existam cerca de 153.000 pessoas com demência, 90.000 com Doença de Alzheimer.
Compromete fundamentalmente as áreas do cérebro responsáveis pela memória, pensamento e linguagem. As causas são desconhecidas e não há tratamento específico.
Os sintomas são variados e incluem a desorientação espaciotemporal e a inabilidade para realizar as tarefas do quotidiano. Nos estágios iniciais, pode estar comprometida apenas a memória. Nos estágios mais avançados, a doença evolui para mudanças na personalidade, alterações de comportamento e agressividade.
Habitualmente, o seu início é lento, insidioso e evolui de forma progressiva, sendo difícil de detetar pelas pessoas que o rodeiam. Existe, de facto, uma fase assintomática ou pré-clinica em que a doença de alzheimer ainda não está suficientemente desenvolvida para provocar alterações no funcionamento cognitivo.
A progressão da demência de Alzheimer está dividida em três fases:
A fase inicial que dura em média de dois a quatro anos. É marcada pela perda lenta e gradual da memória recente. As alterações comportamentais acompanham esta evolução, havendo dois tipos de comportamento: apatia, passividade, desinteresse, e outro marcado pela agressividade, a irritabilidade, o egoísmo, a intolerância e a agressividade. Nos casos de apatia é importante o diagnóstico diferencial com a depressão. Alterações da memória e desorientação espacial podem causar estados depressivos e desinteresse por atividades até então normalmente praticadas.
A segunda fase evolui entre três a cinco anos, sendo que se agravam os sintomas da fase anterior. Relaciona-se com o comprometimento das áreas corticais do lobo temporal, afetando atividades instrumentais e operativas.
Iniciam-se as dificuldades motoras, instalam-se afasias (perda quase total da capacidade de expressão de palavras como símbolos do pensamento), apraxias (impossibilidade de executar movimentos coordenados como marcha, escrita) e as agnosias (incapacidade de identificar objetos pelas suas caraterísticas). A marcha pode se apresentar prejudicada, os movimentos lentificados e emagrecimento. As queixas de roubos de objetos pessoais, a desorientação no espaço e tempo e a dificuldade em reconhecer familiares, tornam-se comuns. A presença de delírios, alucinações e agitação psicomotoras são mais frequentes.
Os doentes perdem a capacidade de ler e entender o que lhes é solicitado. Manifestam a repetição de palavras ou frases curtas e desordenadas. A iniciativa se torna quase ausente, o vocabulário restrito, o pensamento abstrato ausente. É comum perderem-se mesmo dentro de casa. Instala-se um total estado de dependência.
Uma terceira fase é caracterizada pela memória de longo prazo bem prejudicada, capacidade intelectual e iniciativas deterioradas. O doente torna-se indiferente ao meio.
Estabelece-se um estado de apatia, de prostração ao leito ou à poltrona. O mutismo e o estado vegetativo se concretizam e ocorre a perda de autonomia total.
Até à presente data não existe cura para a Doença de Alzheimer. No entanto, existem medicamentos que retardam a progressão da doença e aliviam os sintomas; Existem intervenções não farmacológicas realizadas por psicólogos que ajudam a: Manter as capacidades; Promover o bem-estar; Promover a ocupação e o envolvimento social. A Pessoa pode organizar a sua vida e planear o futuro: Escolhendo alguém da sua confiança que a ajude a tomar decisões ou a tomá-las em seu nome quando tal se torne necessário.
Podemos então, caraterizar que a perda de memória é uma característica natural do envelhecimento. Mas quando a perda de memória começa a perturbar a vida quotidiana da pessoa, já não estamos a falar de algo natural, mas sim daquilo que poderá ser um sintoma de demência.
Pergunte-se: Isto é algo novo?
Se suspeitar que pode ter demência de Alzheimer ou algum familiar deverá recorrer ao médico de família e este após avaliar os sintomas e solicitar os exames necessários, pode fazer um diagnóstico preliminar e o encaminhamento para um médico especialista – neurologista, psiquiatra e psicólogo. Também pode optar por fazer um Rastreio Gratuito no Hospital Social da Santa Casa da Misericórdia de Ponte da Barca, inserido no projeto VivaMente. Será efetuada uma avaliação global (física, emocional, cognitiva, nutricional, económica, social, etc.) por uma equipa especializada.
É fundamental conhecer atempadamente o diagnóstico, pois quer a pessoa com demência, quer a sua família encontram uma explicação para o que as atormenta. É sempre mais fácil lidar com o que se conhece do que com o desconhecido.
Laura Brito
Mestre em Psicologia Clinica e da Saúde

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