NB- Na passagem dos 430 anos da fundação da Santa Casa da Misericórdia, que balanço faz desde que há dez anos assumiu a provedoria?
O exercício como responsável máximo da instituição, sempre com o apoio incondicional dos restantes membros da Mesa Administrativa, tem constituído um enorme desafio, exigente, cansativo, mas por outro lado muito gratificante e particularmente enriquecedor numa perspetiva pessoal, como ser humano e barquense. De facto como é do conhecimento geral, quando assumimos a responsabilidade de conduzir os desígnios da Santa Casa da Misericórdia, encontramos a instituição numa situação particularmente difícil, quer em termos organizativos, quer financeiramente, num preocupante processo de descapitalização, estruturas antigas e degradadas, uma política salarial incomportável, desajustada e mesmo desequilibrada em função das reais capacidades, competência e desempenho das diferentes classes profissionais.
O edifício do Lar Condes da Folgosa completamente degradado, sem as mínimas condições de segurança para utentes e funcionários, manifestamente insuficiente quanto à qualidade dos serviços disponibilizados, essenciais à satisfação das necessidades e comodidade dos idosos. Hoje felizmente, apesar dos condicionalismos inerentes às características do edifício, apresenta-se completamente renovado, fresco, com um ar acolhedor e familiar, cumprindo os requisitos normativos, onde uma equipa técnica de elevada competência, assegura um serviço de grande qualidade, pelo que sem o menor receio, afirmo poder rivalizar com qualquer outra estrutura equivalente a nível distrital.
O Jardim de Infância José Carneiro Bouças onde a qualidade técnica e excelência dos serviços prestados, constituiu sempre ao longo dos anos a sua imagem de marca, foi alvo de um forte investimento na renovação e modernização das suas instalações, numa preocupação de poder apoiar e corresponder minimamente, às exigências do serviço de alta qualidade disponibilizado pelas suas funcionárias.
O Serviço de Apoio Domiciliário, passando de uma estrutura residual com parcos recursos humanos e material obsoleto, para uma resposta social com um crescimento exponencial e igualmente de elevada qualidade técnica.
O CATL, apesar de duplicada a área das suas instalações e um progressivo melhoramento do seu equipamento, vem-se mostrando de ano para ano, manifestamente insuficiente para as solicitações.
NB- Como Provedor gere várias valências : Hospital / Lar / Apoio Domiciliário / Creche / CATL. Quanto ao Hospital qual é a situação actual?
Sendo frequentemente acusado de tratar o hospital como a menina dos meus olhos, em detrimento das outras valências, na minha perspetiva tem grandes potencialidades de crescimento, tem a possibilidade e responsabilidade de responder às reais necessidades e expetativas dos barquenses, nunca devendo ser esquecida a riqueza da sua história, a sua forte ligação afetiva às gentes de Ponte da Barca, que sempre viram, contribuindo aliás para isso, aquela casa como sua, património seu, uma referencia na memória coletiva dos barquenses.
NB- Em relação ao Hospital ainda há dias viu aprovado o projeto de Cuidados Continuados de Média Duração ver a luz do dia com 14 camas . Já funciona?
Infelizmente, apesar do compromisso assumido pelo Senhor Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde aquando da visita a Ponte da Barca e das garantias dadas e publicamente anunciadas na comunicação social, por parte de alguns dos senhores deputados eleitos pelo círculo de Viana do Castelo, tive a informação oficiosa da intenção do governo de substituir a programada Unidade de Média Duração, por mais 15 camas da tipologia de Longa Duração.
Este facto, constituindo um enorme revés e deceção pelos enormes prejuízos que acarretam para a instituição e sobretudo para a população de Ponte da Barca, não poderá deixar de ser alvo do nosso mais veemente protesto, ao qual esperamos que não deixem de se associar autarcas, deputados, responsáveis políticos e todos aqueles, que de alguma forma possam manifestar o seu desagrado, fazendo chegar às entidades competentes, o seu descontentamento e indignação, por o nosso concelho se ver mais uma vez preterido e os seus interesses prejudicados, por via de decisões políticas arbitrárias e de contornos pouco claros. Aproveito a oportunidade para apelar a todos, principalmente agentes políticos, que se juntem a nós nesta justa luta de contestação, cumprindo o seu dever e a missão para a qual foram eleitos, não mais do que defender em sede própria, os reais interesses daqueles que os elegeram.
NB- Em relação ao Lar, qual a resposta nos tempos atuais?
O Lar Condes da Folgosa por via da qualidade técnica, dedicação e humanismo da sua equipa, acolhendo 80 idosos e estando sempre com lotação esgotada, vem assistindo a um constante aumento da sua lista de espera, que atualmente ultrapassa largamente a meia centena. Esta realidade constitui para nós, nos dias de hoje, uma das maiores preocupações, por não sermos capazes de responder às múltiplas solicitações, muitas vezes por casos dramáticos de verdadeira emergência social, em que nos sentimos incapazes de corresponder.
NB- O Apoio Domiciliário também é uma resposta nos tempos atuais. Onde chega?
O Serviço de Apoio Domiciliário há muito foi identificado pela administração, como uma resposta de importância vital e com maiores potencialidades de crescimento, quer pela melhor relação custo/benefício, quer pelas virtudes das suas características, nomeadamente, em poder retardar a institucionalização do idoso, mantendo-o no seu habitat, junto dos seus familiares. Tem sido alvo de um forte investimento e carinho especial por parte da Mesa Administrativa, felizmente correspondido com a grande recetividade junto da população. Distribuindo-se por 3 rotas de intervenção, disponibilizando uma multiplicidade de serviços, de Segunda a Domingo, 365 dias ao ano, tem merecido por parte da população uma extraordinária recetividade, bem patente no número de utentes ( 70 ), muito acima do contratualizado com a Segurança Social ( 48), só possível pela excelência da qualidade dos serviços prestados pela sua equipe técnica e funcionárias, que não poderia deixar de realçar e felicitar.

NB- No que toca à Creche a resposta é suficiente ou também existe projeto de crescimento?
À semelhança das restantes respostas sociais, a creche vê a sua lotação permanentemente esgotada, incapaz de responder às solicitações. Efetivamente, apesar das alternativas existentes a nível concelhio, a creche vê a sua lista de espera aumentar, com um número considerável acima do protocolado e apoiado pela segurança social, exigindo um esforço financeiro adicional, razão pela qual apresentamos recentemente um pedido de alargamento do protocolo para mais 16 crianças. Abstenho-me de mencionar a excelência dos seus serviços, por sobejamente reconhecidos, que obviamente explicam a sua enorme e crescente procura.
NB- A Loja Social tem um ano. Qual o seu papel?
A Loja da Santa Casa, criada com o propósito de constituir uma fonte adicional de receita, tem igualmente como objetivo ser um ponto dinamizador de cultura, de informação das atividades da instituição, informações genéricas sobre o concelho e agilizar o serviço de atendimento às largas centenas de utentes da instituição. Temos consciência que ainda está muito aquém de atingir os seus objetivos, constituindo um dos polos de ação a curto prazo, através do nosso gabinete de Comunicação e Ação Social.
NB- Quantos funcionários?
Como sabe a Santa Casa da Misericórdia é incomparavelmente o maior agente empregador privado em Ponte da Barca, constituindo-se num elemento fundamental na economia social do concelho. Tem atualmente ao seu serviço 150 funcionários e 29 colaboradores.
NB- Como consegue fazer face às despesas de toda a estrutura ?
A sustentabilidade da instituição, constitui como deve compreender, a principal e constante preocupação da Mesa Administrativa, principalmente como foi mencionado, pela sua enorme responsabilidade na economia local.
Para além das comuns dificuldades atualmente vividas pelas empresas, em particular médias e grandes empresas, acresce o esforço adicional resultante do constante e progressivo investimento que temos vindo a realizar, bem à vista da comunidade.
Após uma fase inicial de diagnóstico da situação, foi implementada uma estratégia de crescimento, numa perspetiva pragmática de ” crescer ou morrer”, a que lamentavelmente se associaram dificuldades adicionais, fruto de um inqualificável tratamento discricionário, objetivamente lesivo para a instituição. Só com uma gestão rigorosa, uma implacável determinação nas reformas a introduzir e sobretudo uma abnegação, profissionalismo e sentido de dever da maioria dos seus funcionários, tem sido possível vencer. Se me permite quero aproveitar a oportunidade, para em nome da Mesa Administrativa endereçar o meu profundo agradecimento aos funcionários da Santa Casa da Misericórdia de Ponte da Barca.

NB – Com a crise instalada a vários níveis como é que a Santa Casa dá resposta no aspeto social?
A Santa Casa, dentro das suas possibilidades, tem vindo a responder às múltiplas solicitações e problemas identificados. Quer através de intervenções pontuais, quer através das suas diferentes respostas sociais sempre disponíveis para intervir em situações particulares de emergência social, quer através da cantina social e principalmente, através de projetos estruturados no sentido de minorar a crise social, dirigidos às reais necessidades das pessoas e que infelizmente, nem sempre têm merecido a devida atenção e apoio.
NB- Qual a função do CATL ?
O CATL constitui sem dúvida, a situação mais insólita e surpreendente vivida na instituição.
Na verdade quando se adivinhava um futuro sombrio para este tipo de resposta social, em consequência da reestruturação da escola pública e reformulação das políticas educativas, quando se assistiu a um decréscimo considerável do número de utentes na generalidade dos CATL a nível distrital e nacional, levando inclusive ao encerramento de vários, o nosso CATL tornou-se numa resposta social de verdadeiro sucesso, um caso ímpar reconhecido pelos técnicos da Segurança Social, em que para além de exceder largamente o número de utentes protocolados com a segurança social ( 50 ) , acolhe atualmente 80 crianças, tendo pela primeira vez na sua história, ver-se forçado a cancelar as inscrições, por atingir a lotação máxima. Trata-se realmente de um verdadeiro caso de sucesso, em que só a dedicação, capacidade e qualidade técnica dos seus profissionais podem explicar.
Não queria terminar, sem deixar de evidenciar o excelente trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pela Santa Casa na área cultural. Efetivamente, estando ainda bem na memória dos barquenses a multiplicidade de iniciativas protagonizadas pela nossa instituição, sempre contando com um forte envolvimento da comunidade local, esta tem marcado de uma forma positiva a agenda cultural local. Este ano, ao comemorarmos os 430 anos de existência, contamos oferecer um rico e diversificado programa, em que a participação e colaboração das populações das diversas freguesias serão fundamentais.

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